Pesquisa mostra que nos últimos meses, o número de casos no Brasil foi subestimado. Agora, governo aposta na testagem em massa do grupo de risco e de profissionais da saúde e segurança
O número de casos de Covid-19 no país é maior do que o registrado oficialmente pelo Ministério da Saúde. É o que indica uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão vinculado ao próprio ministério. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão ao analisar o número de pessoas que foram hospitalizadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nas primeiras 12 semanas do ano. Essa complicação nos pulmões, marcada por tosse e dificuldade para respirar, é indicativo de infecção por algum vírus que se propaga pelo ar, como a gripe ou o novo coronavírus.
De acordo com os dados colhidos pelos pesquisadores, em 2020, no Brasil, o número de hospitalização por SRAG foi o maior dos últimos 10 anos - isso porque a pesquisa só levou em conta os dados até o dia 21 de março. Enquanto nessa data o Governo Federal e os governos estaduais contabilizavam pouco mais de mil pessoas com Covid-19, o número de hospitalizações pela síndrome respiratória aguda grave já passava dos 4 mil. Também foi notada uma mudança no perfil das pessoas acometidas pela doença. Em todos os anos anteriores, as crianças eram as mais afetadas. Neste ano, são os idosos. Outro dado importante é que nesse período, 90% dos casos de SRAG não tive a causa identificada. Para os pesquisadores, isso é um sinal de que os testes demoraram a serem aplicados no Brasil.
“Em meados de março já estávamos observando muitos casos de SRAG ainda sem análise laboratorial para indicar qual o vírus associado. Dado a um conjunto de evidências tudo leva a crer que boa parte deles já deveriam ser em função do novo coronavírus. É bom lembrar que nesse período ainda não se estavam testando todos os casos hospitalizados de doenças respiratórias”, destaca Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenador do Info Gripe, site que reúne dados sobre os casos de SRAG.
“O problema da subnotificação é que a gente acaba não tendo a real dimensão do número de casos. As medidas de prevenção podem ser afrouxadas no momento errado, fazendo com que haja um pico de transmissão”, explica a médica infectologista, Heloísa Ravagnani, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
Por outro lado, de acordo com ela, a falta de testes é uma realidade que já está sendo contornada no Brasil. “No começo da epidemia teve uma falta de testes, então foram priorizados os casos mais graves. Agora já estão chegando os testes sorologicos para diagnosticar aqueles pacientes que já tiveram contato com o vírus e não puderam fazer o diagnóstico na época”, destaca.
No último domingo (3/5), o ministro da saúde, Nelson Teich anunciou a compra de 20 a 21 milhões de testes para Covid-19. “O projeto de testes vai começar na semana que vem. É um programa de testagem que você vai priorizar alguns grupos de maior risco, como o pessoal da saúde e da segurança. Pra se ter uma metodologia, vamos trazer isso do IBGE, que vai definir que vamos testar”, explicou o ministro. Segundo ele, esses testes começarão a ser aplicados na semana que vem.