A ex-presidente tem 12 processos na Justiça, cinco julgamentos pendentes e seis pedidos de prisão preventiva que não foram adiante
Na última segunda-feira (10), a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, compareceu à quarta audiência do julgamento que enfrenta no país. Acusada de corrupção, associação ilícita e desvio de verbas públicas, a atual senadora surpreendeu o mundo, em maio, ao anunciar interesse em concorrer como vice-presidente do pré-candidato Alberto Fernández. A expectativa era de que ela tentasse o cargo de titular do poder Executivo.
A composição da chapa foi apresentada para diminuir a rejeição ao nome Kirchner, aumentando as chances de vitória da oposição. Essa avaliação é feita por diversos especialistas, como o coordenador geral do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional, da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Pfeifer.
Para ele, “com a vitória dessa chapa, se espera que as políticas de cunho mais populista, que Kirchner empreendeu durante a gestão, voltem a ser implementadas”. Ele ressalta, porém, que “isso não significa que o candidato vencedor não possa ser a pessoa que assuma o protagonismo”.
Na mesma linha de Pfeifer, o especialista em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Eduardo Vidigal acrescenta que além de interesses eleitoreiros, Kirchner tenta fugir da justiça. Segundo ele “a candidatura a vice ocorre de um duplo movimento. Por um lado, ela poderia ter um indulto presidencial, e por outro para enfraquecer o peronismo federal”.
Processos
Cristina Kirchner tem 12 processos correndo na Justiça, cinco julgamentos pendentes e seis pedidos de prisão preventiva que não prosseguiram por conta de foro privilegiado decorrente do cargo de senadora. Entre os processos, ela responde por associação ilícita e fraude. Os valores desviados giram em torno de 46 bilhões de pesos, o equivalente a 1 bilhão de dólares.
Além disso, a ex-presidente responde por desvio de verbas, entre 2004 e 2015, que favoreceram o empresário Lázaro Báez, em contratos de mais de 50 obras. O valor significa 80% do total de obras públicas realizadas no período. Ainda segundo a Justiça argentina, muitas das obras sequer foram concluídas.
Alberto Pfeifer reforça que a candidatura é uma “faca de dois gumes”. Ele explica que as acusações contra Kirchner podem inviabilizar as chances de vitória da chapa. No entanto, em caso de vitória, a ex-presidente teria a oportunidade de receber um indulto presidencial, fugindo da Justiça.
O especialista da USP argumenta que, além dessa possiblidade, a única alternativa para a ex-presidente seria o exílio fora da Argentina. “O empossado goza de isenções quanto a processos judiciais. Mas como candidata, ela responde como qualquer um do povo”, explica Pfeifer.
Eleições
Além da chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que já anunciaram interesse em concorrer às eleições primárias em agosto, outras candidaturas estão surgindo.
Outro que surpreendeu foi o atual presidente da Argentina, Maurício Macri, que anunciou o nome do opositor peronista Miguel Pichetto como vice em sua chapa. Isso pode tornar o cenário eleitoral ainda mais imprevisível.
Em maio o Macri tinha 36% das intenções de voto, o número caiu para 28,5%, em junho. Já a chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner subiu três pontos em relação ao mês anterior e chega a 41%, em junho. A pesquisa foi realizada pela consultora Hugo Haime e Associados.
As eleições primárias serão realizadas no dia 11 de agosto. Já as eleições gerais, no dia 27 de outubro.